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A exploração sexual de crianças e adolescentes




A exploração sexual de crianças e adolescentes, em matéria publicada na edição nº 306 de "Problemas Brasileiros", de novembro/dezembro de 1994


PAULO SCARDUELLI


     

      Retrato afrontoso de um país que fecha os olhos a todo tipo de exploração infantil, a prostituição tem se alastrado de modo espantoso no Brasil, atraindo meninas cada vez mais novas para as ruas. Crianças de até 9 anos podem ser encontradas fazendo programas, tanto em avenidas e praças de cidades grandes, como em bordéis e garimpos do interior. Sua mercadoria é o sexo, que na maioria das vezes é trocado por um prato de comida ou um quarto para dormir. O CBIA (Centro Brasileiro para Infância e Adolescência) estima em 500 mil o número de meninas prostitutas no país. Isso isola o Brasil na dianteira dos países americanos que enfrentam esse tipo de problema social, ficando atrás apenas da Tailândia, que tem 800 mil menores na prostituição.
A estatística ressalta que oito em cada dez garotas brasileiras se prostituem contra a vontade. Elas trabalham de três a quatro dias por semana e têm em média cinco parceiros por dia. Com saúde debilitada e sem educação básica, essas meninas tornam-se mães precoces que não têm condições de educar os filhos. A violência sexual contra menores já estampou o Brasil na capa da revista americana "Time".
Pelo menos 50% das prostitutas de Belém têm menos de 16 anos. Só no centro da capital paraense há cerca de 2 mil. Calcula-se que no Rio de Janeiro existam 30 mil menores nessa vida.


Quase 60% das 10 mil prostitutas da região central e do porto de Santos são crianças ou adolescentes com idade entre 10 e 19 anos. Uma delas é R., que faz ponto na região portuária. Tem 16 anos, é loura, magra, desnutrida e sorridente. Ainda brinca de chupeta. Começou a vida sexual aos 12 anos quando foi estuprada por um primo. Fugiu de casa e hoje mora com duas meretrizes num barraco. Cheira cola, fuma crack e nunca foi à escola.
Ela conta que o seu primeiro programa foi com um homem bem mais velho do que ela: "Ele me levou para um motel e me ofereceu um monte de coisa. A gente transou e depois ele me pagou".


R. faz hoje entre cinco e seis programas por semana e cobra por cada um R$ 10. Segundo ela, no carro é mais barato, porque não precisa pagar o quarto do hotel, que custa R$ 3. "Tem uns que dão o cano e não pagam." Como são os fregueses? Ela conta que "a maioria é velho. Os coroas querem as meninas mais novas. Já ganhei até um vestido".