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A relação do Suicídio com filmes, jogos e séries e o que fazer para evitar

Hoje a gente vai ver porque a relação entre 13 Reasons Why (série) e suicídio pode ir além da ficção.



Kevin Hines sofre de transtorno bipolar, e se sente um fardo para sua família, pro mundo, como se ele não importasse pra nada ou ninguém. Aos 19 anos ele caminhou até a ponte Golden Gate, em San Francisco, para fazer o que muitas pessoas fazem lá, todos os anos: se matar. Mas, assim que ele se soltou da ponte ele se arrependeu do que tinha feito, sabemos disso porque ele foi uma das pouquíssimas pessoas a sobreviver à queda. O choque por se arrepender tão rápido do que ele estava fazendo e perceber que aquela não era a saída, foi tão grande, que o keven, até hoje faz palestras para a prevenção de suicídios e transformou a sua história um filme. Mas buscar o mesmo fim, como outras pessoas fazem todos os anos, pode parecer estranho, só que nada em comum.


Em 1774, o alemão Goethe, publicou os sofrimentos do jovem Werther, onde o herói
Werther, se apaixona por Charlotte e tem o seu amor correspondido mas ela se casa com Albert, para quem tinha sido prometida, sem ter como resolver o seu triângulo amoroso, Werther se suicida. A obra de Goethe foi tão cultuada que gerou "cosplay", homens passaram a se vestir como herói, mas a imitação foi mais além, muitos se suicidaram em condições parecidas com as da obra, ou tinha uma cópia do livro.
Como Nicolas Christakis e James Fowler conta em "O poder das conexões" , a preocupação na época foi tanta, que o livro foi banido na Alemanha, Dinamarca e Itália.

Essa relação, entre um exemplo notório de suicídio e mortes parecidas, continua suposta até o sociólogo David Phillips, testar se os suicídios entre 1947 e 68 tinham relações com a publicação de notícias na capa do jornal New York Times, descrevendo como alguém tinha tirado a própria vida.
No seu trabalho clássico de 1974, ele não só confirmou essa relação, como criou o termo efeito de Werther, para o fenômeno. Vários outros estudos confirmaram a mesma relação, não só nos Estados Unidos, mas também na Europa, e na Ásia, quando as chances de suicídios aumentam de acordo com a atenção que a imprensa dá.
Por isso vários órgãos de imprensa e a OMS, tem guias de como não noticiar um suicídio, recomendam não sensacionalizar, nem descrever em muitos detalhes o que aconteceu ou apresentar à morte com uma solução para os problemas. O mesmo vale para fotos e vídeos do acontecido.
 Adolescentes são os mais vulneráveis aos efeitos de Werther, não só por absorverem mais o exemplo, mas também por estarem menos amparados por estruturas sociais, como o casamento, filhos e o trabalho.

E a influência, também depende da relação do suicídio com as pessoas, como no caso de uma celebridade, uma personalidade admirada, notícias de pessoas comuns, podem até influenciar por alguns dias ou semanas, já celebridades podem ter o efeito por mais de um ano.

Como durante a década de 60, em que mulheres de 30 e poucos anos, tinham mais chances de se matarem como Merlyn Monroe fez em 1962. E as similaridades não ficam só na forma como a celebridade morre, mas também, acontecem em um mesmo período ou até em um mesmo local. Como uma escola, como na cidade de Manitoba, que teve vários casos seguidos de mortes entre adolescentes em 95.

Por isso, alguns pontos como a ponte Golden Gate ou a floresta de Yaoki Gahara no japão, concentram mortes, já que se tornaram famosos por isso.


13 Reasons Why, foi criticada desde o começo, pela possibilidade de incentivar os suicídios, por causa desse efeito de contágio social. Por mais que a série retrata bem a angústia os problemas que levam alguém a um suicídio e promova discussões como esta aqui, ela viola várias recomendações, mostra a morte da Hanna Baker em detalhes e coloca isso como motivo de mudança da comunidade, como se ela tivesse sucesso no que buscava por se matar. E ao que tudo indica, as críticas tinham razão, o número de tuítes sobre a série e o fato de que já começará a produção da segunda temporada, são bons indicadores, de que bastante gente assistiu. Ainda não temos como saber o impacto que isso teve em suicídios, mas a busca por termos relacionados ao suicídio aumentaram logo depois do lançamento da série.

Pesquisadores que monitoram buscas no Google, por termos relacionados ao suicídio, viram elas aumentarem em média 20%, depois do lançamento da série, em relação ao que seria esperado, o termo que mais aumentou foi justamente: como se matar.

Como a série mostra, a depressão influencia bastante no suicídio, principalmente porque transtornos como a depressão, pode impedir de quem passam por estresse, problemas e conflitos de verem outras soluções para o que está passando, até transformarem a morte na única saída visível no momento de angústia. O triste, é que, algumas vezes um problema que parece enorme, como não passar em uma prova, perdeu o emprego ou o término de um relacionamento, perde importância algum tempo depois e ao contrário da situação da Hanna e das suas fitas, boa parte dos suicídios não é tão planejada.

O período em que as pessoas se sentem suicidas e tão em perigo, normalmente dura horas ou dias e não meses, e entre sobreviventes ou aqueles que foram impedidos de se matar a maioria decidiu fazer isso dentro de menos de uma hora, antes do ato, quando não há menos de cinco minutos e pelo menos 90% não tenta novamente.

Tanto que, o Reino Unido preveniu um terço dos suicídios na década de 1970, simplesmente porque trocaram gás de carvão, pelo gás natural nos encanamentos domésticos, e as pessoas não conseguiam mais se asfixiar com forno. Um passo a mais ou uma facilidade a menos foi o suficiente, do mesmo jeito de barreiras e pontes ou manter arma e munição em cômodos separados da casa, às vezes são suficientes para prevenir.

Se você está passando por problemas e têm essa impressão de que a morte é a única solução. Ela não é ! a solução real é buscar amparo social, família, relacionamentos, ajuda médica e profissional em casos como a depressão.
 Aqui no Brasil, a gente tem o 'Centro de Valorização da Vida' (CVV). Com o qual você pode falar por e mail, por chat, por skype, discando 141, ou mesmo olhando no site quais são os centros mais próximos se quiser ir pessoalmente.

O Kevin Hines conta o mesmo que outros sobreviventes que pularam da ponte : se arrependeram do que tinha feito assim que agiram, enquanto essa angústia e os problemas são passageiros, e vai embora, a marca do acontecido e a falta que você faz para os seus familiares e amigos é Permanente ! ...nós sentimos a sua falta.




Fontes:

Depoimento de Kevin https://www.youtube.com/watch?v=WcSUs9iZv-g Phillips, David P. "The influence of suggestion on suicide: Substantive and theoretical implications of the Werther effect." American Sociological Review (1974): 340-354. Mesoudi, Alex. "The cultural dynamics of copycat suicide." PLoS One 4, no. 9 (2009): e7252. Ayers, John W., Benjamin M. Althouse, ScM Eric C. Leas, Mark Dredze, and Jon-Patrick Allem. "Internet searches for suicide following the release of 13 Reasons Why." JAMA Intern Med. Published online July 31, 2017. doi:10.1001/jamainternmed.2017.3333 https://jamanetwork.com/journals/jamainternalmedicine/article-abstract/2646773 Kreitman, Norman. "The coal gas story. United Kingdom suicide rates, 1960-71." Journal of Epidemiology & Community Health 30, no. 2 (1976): 86-93.